Mateus Netzel, editor-executivo do Poder360, conta como o site criado em 2016
com sede em Brasília vem se afirmando na cena jornalística com crescimento contínuo
Thallys Braga
Segundo semestre de 2021
Nesta entrevista, concedida no segundo semestre de 2021, Mateus Netzel, diretor-executivo do site jornalístico Poder360, conta como o veículo especializado em cobertura política, com sede em Brasília, apresentou crescimento contínuo desde que foi lançado, em 2016. Netzel, natural de Curitiba e formado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP) também em 2016, integra a equipe do site desde seus primórdios, em 2015, quando foi contratado para trabalhar como repórter diretamente para Fernando Rodrigues, fundador e diretor de redação do Poder360. Na época, Rodrigues, com trajetória de destaque em grandes jornais, já mantinha uma newsletter enviada somente para assinantes, o Drive, que existe até hoje como um importante eixo de financiamento do projeto. O conteúdo do site, em contrapartida, é aberto e tornou-se a face pública do trabalho, facilitando a inserção e o reconhecimento do veículo e de seus profissionais por parte dos leitores e das próprias fontes do poder, disse Netzel na conversa realizada pela plataforma Zoom.
Atualmente, o jornal digital - como o site se apresenta - conta com cerca de 80 profissionais e, no início de 2021, passou a ter como sócio Frederico Trajano, acionista do Magazine Luiza, que adquiriu 25% do Poder360. Segundo informações disponíveis no próprio site, no ano passado o veículo chegou a 83,4 milhões de visitantes únicos e obteve 354,5 de páginas vistas. Dados do Comscore indicam crescimento de 119% de um ano para o outro. O desempenho positivo, de acordo com Netzel, além de ser resultado do trabalho cotidiano, acontece porque ainda se trata de um veículo novo, com potencial de expansão à medida que se torna mais conhecido. No início, o site era acessado quase que exclusivamente por leitores ligados ao universo da política, porém aos poucos também vem conquistando audiência no segmento da classe C. "Mais pessoas dessas faixas passaram a ler notícias no meio digital", afirma o jovem editor, que garante: "Somos uma empresa financeiramente sustentável, em crescimento, com resultados positivos em todos os anos. Saudável financeiramente. Com a equipe crescendo. Temos tido sucesso no nosso modelo, né?".
Além de trabalhar com anúncios, o Poder360 realiza conteúdo patrocinado como uma de suas fontes de financiamento. Ao longo dos anos, o site buscou diversificar os serviços que oferece, além da cobertura jornalística. Assim, criou o PoderIdeias, para realizar eventos, e o PoderData, para pesquisas de opinião pública.
Uma das coberturas mais relevantes que o site já realizou foi a do Panama Papers, uma ação do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), em 2016. O Poder360 foi o representante brasileiro nessa cobertura e Netzel se envolveu de forma intensa com esse trabalho, reconhecido com um Prêmio Pulitzer. O editor se lembra com entusiasmo da experiência: "Foi uma oportunidade incrível, inacreditável. Foi um golpe de sorte pessoal meu e das pessoas que estavam junto comigo". Para destrinchar as informações obtidas, além de criptografia, foi necessário trabalhar com jornalismo de dados, que todos os repórteres do Poder360 são estimulados a praticar. Netzel não tem dúvida de que profissionais mais jovens, de forma geral, oferecem nova perspetiva acerca do jornalismo, seja em termos de habilidade com a tecnologia, seja em termos de cultura empresarial.
"Quem fez a carreira inteira num grande jornal, vê a relação com as fontes, a forma de fazer jornalismo de um jeito diferente do que um jovem que começou a carreira num veículo pequeno digital. E essa, talvez, essa diferença de cultura seja ainda mais pesada e tenha mais influência na adaptação do que a tecnológica, propriamente dita", destaca Netzel.
Abaixo, a transcrição completa da entrevista, desenvolvida no âmbito do projeto Reconfigurações Jornalísticas, da Universidade Federal Fluminense (UFF), seguindo metodologia inspirada nos preceitos da história oral.
Transcrição da entrevista com Mateus Netzel, do Poder360
Realizada por Thallys Braga
Revisão da transcrição: Profa. Rachel Bertol e Mateus Stögmüller (bolsista)
Data de realização da entrevista: segundo semestre de 2021
Projeto: Reconfigurações Jornalísticas - UFF
Coordenação: Profa. Rachel Bertol
Clique aqui para acessar à transcrição da entrevista em versão PDF.
[00:00:13] Mateus Netzel: Eu sou o Mateus Marcelo Netzel, diretor executivo do Poder360. Nascido em Curitiba, Paraná. Minha família é de Campo Largo, cidade na região metropolitana. Morei lá toda a minha infância. Passei a estudar em Curitiba no ensino médio, fui para São Paulo fazer faculdade e de São Paulo vim para Brasília trabalhar no Poder, com Fernando (Rodrigues) na época, antes até do Poder. Minha família continua lá, continuo indo sempre. E vivo nessa ponte aérea Curitiba-São Paulo-Brasília.
[00:00:55] Quando começou a se interessar por jornalismo, mais especificamente o jornalismo político?
[00:01:03] Netzel: O jornalismo foi durante o ensino médio, naquela época que todos os jovens precisam decidir o que querem fazer da vida. Sempre gostei, sempre li muito. Enfim, acompanhar o que estava acontecendo no país. Acho que foi uma escolha meio natural das coisas que me interessavam na época. E, então, aí decidi fazer faculdade de jornalismo, decidi tentar estudar em São Paulo e passei. E aí fui pra lá. E aí, meu interesse por política vinha desde o começo, eu sempre gostava de acompanhar o que estava acontecendo. E dentro das áreas de jornalismo, quando tive a oportunidade de trabalhar com essa área, eu vim aqui pra Brasília. Enfim, foi a conveniência. Estava trabalhando na época com jornalismo cultural, eu era estagiário na Ilustrada, da Folha (de S. Paulo), mas quando surgiu a oportunidade de trabalhar com política e aqui em Brasília, eu vim para cá.
[00:02:04] Como foi a sua experiência no curso de Jornalismo da Universidade de São Paulo?
[00:02:11] Netzel: Foi, assim, uma experiência de... O curso de jornalismo me proveu de informação e das discussões do tema e tal, mas foi um período, principalmente a Universidade de São Paulo e o ambiente, foi um período de formação muito importante para mim, formação pessoal, de conhecimento e, obviamente, da área de jornalismo. Acho que muito da parte de jornalismo, mesmo, você aprende na carreira mesmo, não tanto na universidade, mas a universidade me proveu conhecimento, não vou vou dizer teórico, discussões e debates que também não acontecem ao longo do trabalho, do dia a dia. Então, pelo menos nessa parte, foi muito importante até para ter um aparato de conhecimento prévio ao jornalismo, fora do jornalismo até. Então, acho que era o principal, o ponto mais importante da faculdade para mim foi esse desenvolvimento até fora do jornalismo. E aí a parte do jornalismo, muito mais aprendido na prática, na carreira mesmo, do que na universidade.
[00:03:28] Como e quando surgiu a oportunidade de se juntar ao Poder360? Já conhecia o Fernando Rodrigues?
[00:03:37] Netzel: Não, eu já conhecia, enfim, já acompanhava o Fernando, o trabalho dele desde sempre. Ele sempre foi um jornalista que eu admirei, enquanto estudante ainda. Acompanhei o trabalho dele na Folha desde muito tempo, no UOL principalmente. E sempre fui um grande admirador do trabalho do Fernando. E aí fiquei sabendo na faculdade, ainda, porque eu estava nos meus últimos anos, fiquei sabendo que o Fernando estava procurando alguém para trabalhar com ele aqui em Brasília, nem existia a Poler360 ainda, era uma vaga para trabalhar com ele num projeto novo e ele ainda estava no UOL na época. Então ele publicava, a gente publicava no blog dele, no blog do Fernando Rodrigues que ficava no UOL. E eu fiquei sabendo dessa vaga por acaso na universidade, por causa de um professor meu que era amigo do Fernando e divulgou a vaga no grupo da turma. E aí, enfim, mandei e-mail, mandei currículo, conversei com o Fernando e ele me contratou, para trabalhar aqui ainda quando nem existia o Poder360. Bem no embrião do projeto que virou hoje o Poder.
[00:04:51] Não existia ainda o Poder360, mas já existia a Drive, a newsletter sobre política e poder?
[00:04:59] Netzel: Isso. O Fernando saiu da Folha, acho que em 2014, e aí ele começou a dar forma a esse projeto pessoal dele, profissional, que é, enfim, tem um veículo de jornalismo nativo digital que cobre meio que... com a melhor cobertura do poder, seja política, economia, tecnologia, enfim, e esse começou com uma coisa o Fernando já fazia no blog dele há muito tempo que era uma agenda prospectiva de cada semana aqui em Brasília. Ele publicava toda semana no blog dele no UOL. E foi essa foi a prática dele que deu origem aí ele enfim, formulou, montou um plano de negócios e começou a enviar o Drive, muito inspirado em negócios que existem e que estavam dando certo nos Estados Unidos na época, principalmente o Politico.com, que é uma fonte inspiração clara, que a gente sempre faz questão de ressaltar. E então, criar um produto jornalístico sobre política, sobre economia, sobre poder, para assinantes corporativos, para que empresas assinem, com informações originais e agenda completa do poder, enviadas inicialmente… começou semanalmente, com o Drive da semana, ele mandava todas segundas-feiras. E aí ele desenvolveu, passou a mandar essa newsletter todos os dias, com uma atualização por dia, e começou a dar forma a esse projeto. Ele começou isso em 2015, ainda enquanto mantinha o blog no UOL. Então ele continuava produzindo conteúdo pro blog dele no UOL e, em paralelo, começou a desenvolver essa newsletter. Isso foi começo de 2015, maio de 2015, se não me engano, foi a primeira edição. No início era o Fernando e um estagiário, e aí no meio de julho de 2015 ele contratou, via UOL, um jornalista para trabalhar com ele, enfim, contratado pelo UOL, para o blog do Fernando Rodrigues, e contratou dois jornalistas super jovens. Ele, Fernando, contratou dois jornalistas para fazer o Drive e aí um desses dois fui eu. Então a gente começou com uma equipe, isso agosto de 2015, eu cheguei a Brasília em 4 de agosto de 2015. Então, com quatro pessoas para fazer o Drive, Fernando, três repórteres, cinco então, e um estagiário. E passou a fazer o Drive que era semanal, era uma newsletter por semana, passei a ser uma edição diária com atualizações e notícias apuradas pela equipe, frescas para os assinantes, além da agenda do Poder. Aí começou a evoluir, começou isso em agosto e, ao fim do ano, foi crescendo. De uma edição diária a gente passou a fazer duas edições diárias, no ano seguinte a gente passou a fazer três edições diárias, que é a forma que mantém o Drive até hoje. A partir do Drive começou a ter os primeiros assinantes, passou a ser... passou a financiar essa pequena operação que tinha, aí se formalizou em 2016 a empresa como Poder360, e fim de 2016 a gente lançou o site, o jornal digital, aí sim com o nome Poder360. Então o Poder360 surge em 2016, embora o projeto tenha começado em 2015. Foi assim, eu vim pra cá como repórter, repórter de Congresso, também primeiro, eu não tinha nem me formado ainda, tranquei, eu tinha já terminado as minhas disciplinas na faculdade, faltava só a entrega do TCC, tranquei um semestre, depois pra vir pra Brasília, me instalei aqui. Em 2016 completei, fiz o TCC e me formei, mas já estando aqui em Brasília.
[00:09:34] Mas por que lançar a newsletter por assinatura antes do site? Essa era uma tentativa de tentar construir um público leitor?
[00:09:44] Netzel: Não, foi uma tentativa de viabilizar o negócio, né? O produto novo do Fernando era a newsletter, era o Drive. O negócio foi planejado pra ser um… em volta do drive. Então a ideia inicial do Fernando não era nem fazer o Poder360, o produto principal nunca foi o Poder360 no início. E, partir do momento que o drive se viabilizou, como a equipe... Enfim, foi um crescimento muito gradual, começou com uma equipe muito pequena, e à medida que foi coletando assinantes que viabilizaram, financiaram, tornaram essa equipe pequena sustentável, aos poucos foi se tornando viável ter uma equipe maior, a equipe foi crescendo aos pouquinhos, então em 2016 a gente já era eu acho que oito a dez pessoas, só que a gente produzia… Eram oito a dez jornalistas que produziam um produto que ninguém conhecia, porque o Drive é restrito aos assinantes. Então, era até uma experiência que a gente tinha no Congresso, por exemplo, ia entrevistar, conversar com algum deputado, eu tinha dificuldade de dizer para quem, "mas de onde você trabalha?", "isso que estou te falando vai ser publicado onde?". Então, era até uma dificuldade, é óbvio, com uma equipe que já produzia trabalho com certo volume, a gente queria, passou a querer também ter uma cara pública, né, para o grande público consumir o nosso jornalismo. Mas a ideia do Drive é porque o Drive era o produto originário da empresa. Primeiro, foi preciso e foi planejado viabilizar financeiramente o Drive, para daí, então, a gente dar o próximo passo - tanto que o site ficou bastante tempo sem gerar receita. A receita continuou vindo do Drive, mantendo a equipe, que era uma equipe pequena, mas que já era sustentada pelo Drive. Então, a gente só começou a ter volume de propaganda e outras receitas via Poder360 bem depois de o site ter sido lançado. O que sustentava a operação financeiramente era, e até hoje continua sendo uma fonte de receita significativa nossa, é o Drive.
[00:12:21] Você citou que em 2016 o site finalmente foi lançado e aí queria saber um pouco sobre a rotina de trabalho em 2015, só com o Drive, e o que mudou com o lançamento do site na rotina de vocês?
[00:12:33] Netzel: Teve uma mudança razoável, mas não foi drástica, porque a gente já produziu... Quando a gente lançou o site, a gente lançou a primeira versão... Enfim, a operação do site a gente lançou em novembro de 2016. Ainda num formato meio... Embora visualmente já estivesse na sua versão final, a operação em si ainda era um formato meio beta, a gente começou a fazer uns testes, o volume de publicação era muito pequeno no começo. Mas, como eu falei, a gente já tinha na época uma equipe de oito pessoas, eu não lembro exatamente o número, mas era por aí e a gente já fazia três edições do Drive por dia. Então, a gente tinha conteúdo jornalístico produzido o suficiente na operação do Drive para ser publicado no Poder360 sem ter, assim, sem ter que dobrar os esforços da equipe, a equipe já estava produzindo conteúdo em quantidade para começar as publicações no site, o que mudou foi a tarefas que não existiam antes e passaram a existir, principalmente de edição do material para o site. Enfim, passou-se a editar foto, editar texto, né, porque o Drive são notas mais curtas, a gente trabalha com textos longos, corridos. A apuração continua a mesma, o trabalho dos repórteres continua basicamente o mesmo. A questão é que em vez de escrever apenas em formato de notas curtas, a gente passou a escrever também em formato de texto. e passou a ter mais editores naquela época para poder dar conta de formatar esse conteúdo que já existia e colocá-lo no site. Acho que a principal transformação foi isso, mas não foi uma transformação, assim, drástica da rotina. A rotina dos repórteres, principalmente, continuou sendo muito parecida com o que era. Mudou um pouco o formato, do conteúdo que era produzido, aí óbvio, aí também, aí ao longo do tempo foi aumentando a escala. A gente passou a ter mais gente e ter mais trabalho, mas não teve assim, individualmente, para cada uma das pessoas, não teve tanta mudança de rotina. E aí, é claro, a gente contratou mais editores, enfim, começou a aumentar a equipe de maneira mais robusta, a partir do começo de 2017.
[00:15:05] Com o lançamento do site você deixou o posto de repórter e depois se tornou editor assistente?
[00:15:14] Netzel: Não, eu já tinha deixado o… Eu já tinha virado editor antes do lançamento do site. Eu vim como repórter no comecinho, em agosto de 2015, e eu fiquei até janeiro, fevereiro de 2016 como repórter e aí, já em janeiro, acho que foi em comecinho de fevereiro de 2016, eu virei editor assistente do Drive, dos Drives. Então, quando o site foi lançado eu já era editor assistente. E aí com o tempo passei a ser editor. Quando lançou o site eu passei a ser editor, porque daí aumentou o número de cargos dentro da... Aí passou a ter mais editores, eu virei um deles. E aí, acho que 2017, eu passei de editor a secretário de redação, também é um cargo novo tinha sido criado por necessidade porque a empresa estava crescendo, da hierarquia dentro da redação, e aí em 2019 eu vim pra direção.
[00:16:26] Quais foram os desafios de assumir um cargo de editor assistente sendo tão novo?
[00:16:34] Netzel: Os desafios foram de ser um jovem ainda muito inexperiente na carreira, né? Eu já tinha sido estagiário antes, mas eu mal tinha seis meses de reportagem aqui em Brasília. E os desafios foram esses, de ser responsável por editar um produto que é sofisticado, que trata jornalismo de uma forma… que é lido por pessoas muito relevantes e que tem uma qualidade altíssima. E passei a ser responsável por manter a qualidade desse produto. Então, foi um grande desafio, principalmente pela minha inexperiência na época, mas eu sempre fui muito… Sempre foi um assunto a que me dediquei muito e gostava muito de trabalhar, então acho que, ao mesmo tempo era um desafio muito grande, mas também eu gostava muito de estar vivendo esse desafio, porque eu estava uma coisa que realmente me interessava e sempre foi o centro da minha atenção, e isso ajudou bastante, e sempre com a orientação do Fernando. O Drive era um produto dele, o filho dele, e ele sempre teve um zelo pela qualidade editorial do produto sempre muito grande, e estar trabalhando diretamente, lado com ele, foi… me deu a segurança de eu aceitar esse desafio e continuar desenvolvendo o Drive e a qualidade do nosso jornalismo aqui. Foi um desafio muito grande, porque eu era muito jovem, e eu sabia muito pouco de muita coisa, mas ao mesmo tempo foi… assim como o Drive a gente foi construindo, construindo o barco enquanto remava, então na minha carreira foi um pouco assim também, junto com o projeto.
[00:18:47] E quando o Poder360, o site, nasce, qual era o espaço ocupado pelo jornalismo político investigativo entre os nativos digitais?
[00:19:00] Netzel: Não, não entendi, é o espaço do Poder360 em relação à cobertura ou o espaço desse tema dentro do poder?
[00:19:10] Qual era o espaço da cobertura desse tema de política entre os nativos digitais que estavam na cena também?
[00:19:21] Netzel: Era um dos... É que nenhum dos veículos… A gente teve um movimento legal de criação de veículos digitais nessa época, ali 2015, 2016, foram vários novos veículos que surgiram e alguns, a maioria deles com coberturas específicas, e a gente foi talvez o - embora outros também tratem de assuntos de política - a gente foi o único que realmente tratava desse assunto específico aqui em Brasília. A gente teve, por exemplo, outros surgindo, teve o Nexo em São Paulo, que trata de política, mas é uma outra abordagem. A gente teve o Jota aqui em Brasília também. mas que trata, muito mais focado em assuntos jurídicos e a gente nasceu muito focado em política e economia, e, estando aqui em Brasília, muito na cobertura daqui de Brasília daqui do poder. Então, eu acho que nesse sentido a gente foi, ocupou um espaço único, assim. Mais tarde, veio a surgir é… outros veículos mais amplos, teve o Metrópoles depois, mas que ele também, com uma cobertura muito daqui, local de Brasília, e que só foi se nacionalizar agora mais recentemente, então também não era, não fazia exatamente o que a gente fazia. Eu acho que nesse sentido a gente ocupou um espaço único, porque a gente como veículo nativo digital… a gente tem alguns mais específicos ainda, por exemplo, o Congresso em Foco, que é mais antigo do que nós, mas que trata, enfim, ainda mais restrito. Então, a gente divide essa cobertura, começou dividindo essa cobertura principalmente com veículos que não eram nativos digitais, isso continua até hoje. Acho que a representatividade de espaço, é um movimento meio natural dos veículos nativos digitais que surgiram nessa época, está crescendo, mas naquela época a gente era muito pequeno ainda. Mas veio trazendo uma proposta de cobertura que também era muito única. Embora tenha outros veículos que cubram assuntos que tenham interseção com os nossos, a gente não tem nenhum que tenha exatamente a proposta que o Poder tem. Foi uma das coisas que levou o Fernando a criar o Drive inicialmente, ter identificado uma demanda muito grande junto a empresários e a pessoas que precisam... Enfim, órgãos, associações, órgãos do estado, por informação de qualidade sobre poder a partir daqui de Brasília. Tem os grandes jornais, né? A Folha, Globo, Estadão (Estado de S. Paulo), que são jornais que não são de Brasília, que tem equipes proporcionalmente muito pequenas em Brasília, ainda mais agora, depois desses anos da crise do setor, enfim. E a gente não tinha no Brasil nenhum veículo de cobertura nacional do poder a partir de Brasília de relevância. Então tem o Correio Brasiliense, que é daqui de Brasília, tem uma cobertura local, fazia uma cobertura nacional robusta, mas que também tá, enfim, por motivos da indústria está num momento muito ruim, né? Diminuiu muito em tamanho e relevância na última década. Então, e aí os grandes veículos que cobrem poder no Brasil estão fora de Brasília, né? Tem a Folha, em São Paulo, o Estado, em São Paulo, O Globo, no Rio. A gente quer... a proposta do Fernando desde o começo foi de ser o principal veículo para cobrir o Brasil a partir de Brasília. E o Drive nasceu disso, nasceu dessa demanda não atendida de informação de qualidade nessa área, com o grau de sofisticação que o Drive tem. Enfim, nasceu a partir disso, desde o começo foi pensado dessa forma.
[00:23:37] E quais foram as dificuldades que vocês tiveram no começo para cobrir os bastidores de Brasília, sendo um veículo novo?
[00:23:47] Netzel: As dificuldades, como eu falei, era de ser um veículo novo. O Fernando… Assim, no começo, a gente fazia só o Drive, que era lido, ele é muito lido junto aos políticos aqui em Brasília e aos empresários e enfim... Mas ele não era conhecido do grande público, inclusive dentro do Congresso, inclusive dentro do Executivo. Nos primeiros anos, nos primeiros meses, não adiantava eu querer falar com alguém, dizer que eu trabalhava para o Drive, porque não era conhecido. Aí muitas vezes a referência era sempre, "ah, eu trabalho com o Fernando Rodrigues". O Fernando é uma referência muito grande aqui, super conhecido, super respeitado por todo mundo. Mas ainda assim é diferente de você falar que trabalhava para a Folha e você dizer que você trabalhava para o Drive, um veículo desconhecido, ou até o Poder360 no começo. Ou que você trabalhava com o Fernando, que é uma pessoa respeitada, mas é uma pessoa, não é um veículo com cem anos de história. Então, a principal dificuldade foi essa, de até fazer com que as fontes falassem com você, confiassem em você e te levassem a sério. A equipe era o Fernando e vários jovens que nunca tinham experiência, que não conheciam ninguém em Brasília, todos eram de fora. Na verdade, um deles não, um deles era daqui de Brasília. Mas, enfim, eram pessoas que não eram conhecidas, não tinha nenhum jornalista de relevância além do Fernando - todos muito jovens, todos sem experiência, mal conheciam Brasília. E no começo foi muito difícil principalmente por causa disso. Até você criar um nome seu, até você ser conhecido pelas pessoas e ser reconhecido pelas fontes e, aí saindo do plano individual passando isso para o Poder360 também, porque, enfim... Tem muito muito blog, muito jornal, muitos sites ruins de política e até você fazer o Poder360 ser conhecido e diferenciado desses muitos blogs e sites de política que não são veículos profissionais de jornalismo, toma um tempo, tempo e trabalho. Então no começo foi muito difícil por causa disso. Aí sempre ajudou muito ter a âncora, a figura do Fernando, que realmente aqui ele é muito muito respeitado. Mas, enfim, também nem todo mundo conhece o Fernando. Então, acho que no começo a principal dificuldade foi essa, foi de ser reconhecido enquanto jornalista aqui, enquanto veículo de jornalismo aqui. Isso é uma coisa que agora já não acontece mais, a gente já tem um nome, as pessoas sabem o trabalho que a gente faz, mas os primeiros dois anos ali, foi... acho que essa foi a maior dificuldade.
[00:26:49] Você se lembra de algum caso, alguma cobertura, assim, em que não ser conhecido atrapalhou?
[00:26:58] Netzel: Talvez não tenha um caso anedótico para contar, mas era muito comum, nos primeiros meses, ali, eu recém-chegado à Brasília, eu também, enfim, embora conhecesse por esforço, por reconhecer todos os deputados e senadores, você não conhece o funcionamento das coisas. Então, enfim, com certeza eu perdi muitas informações que eu poderia ter conseguido, por, primeiro, porque as pessoas não me conheciam e não sabiam me indicar o caminho a seguir. E até, por exemplo, para conseguir credencial na Câmara era uma dificuldade, às vezes o Fernando interferir, falar "não, ele trabalha comigo. Tem uma empresa, tem um CNPJ", preciso que você faça a credencial pra gente. Nos primeiros meses, até conseguir credenciamento era difícil, principalmente antes de lançar o Poder360. Poque daí: "Ah, trabalho para o Drive"; "Ah, mas e onde que vocês publicam?"; "Ah, não, a gente não publica, a gente só vai por e-mail para alguns assinantes". Aí, como que você credencia isso? "Ah, não, mas eu sou um jornalista e eu cubro Câmara", mas e, aí, onde que sai o que você publica? Tinha dificuldade… Nos primeiros meses até credenciamento era muito complicado de conseguir. Então, eu já recebi alguns nãos que, com certeza, quem veio depois no Poder360 não recebeu. E conversa com as pessoas. Por exemplo, eu cobria Congresso, o meu colega cobria Palácio do Planalto. Para ser recebido, na época era fim do governo Dilma, para ser recebido como repórter no Palácio Planalto era um desafio enorme, para você conseguir sozinho, sem ter a tutela do Fernando, ali, indicar para você e até falar com as pessoas. Porque é isso, não tinha chancela do veículo para o qual você trabalha, né, se você é uma pessoa desconhecida e chega em Brasília, mas trabalha para o Estadão, você fala "não, eu trabalho para o Estadão", e aí, enfim, você é recebido e você consegue falar com as pessoas. Agora, se você trabalha para um veículo que, em tese, não existe ainda ou não é reconhecido, é muito difícil. Então, assim, até esse credenciamento era muito difícil, muitas vezes.
[00:29:32] E aí, logo nos primeiros meses de atividade do site, vocês se juntaram ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), de veículos do mundo todo, para investigar a indústria de empresas offshore. A cobertura ficou conhecida como Panama Papers e mais tarde ganhou o Prêmio Pulitzer na categoria "reportagem explicativa". Para você, como é que foi coordenar essa cobertura dentro do Poder?
[00:29:59] Netzel: A participação do Poder360 com o ICIJ, que é o consórcio internacional, é o Fernando, né? Na verdade, ele já era membro do ICIJ antes de existir o Poder360. Em 2014, uma das grandes reportagens que me fez acompanhar muito o trabalho do Fernando e admirar, enfim, são temas que eu gosto, foi o do Swiss Leaks, em 2014. O Fernando estava na Folha ainda, ele até chegou a publicar pela Folha e pelo UOL, que já foi um primeiro, foi um embrião, na verdade, do método que foi depois, alcançou a notoriedade com o Panama Papers, que foi esse formato de centenas de jornalistas, mais de uma centena, eu não lembro quantos eram no Swiss Leaks, mas enfim, dezenas de jornalistas espalhados pelo mundo inteiro, trabalhando em colaboração de maneira secreta, sem vazar, numa mesma investigação. Então, esse trabalho do Swiss Leaks foi meio que um embrião para o que aconteceu depois no Panama Papers. E no Panama Papers, a escala foi muito maior, a quantidade de documentos era muito maior, e eu entrei nessa porque eu estava no lugar certo na hora certa. Eu era editor, na verdade eu não era nem editor, eu estava como repórter ainda, porque foi em 2015. E foi uma das primeiras… Assim, ao mesmo tempo em que eu estava descobrindo a cobertura no Congresso, foi uma das minhas primeiras coberturas jornalísticas, foi uma das maiores coberturas jornalísticas da história, que foi o Panama Papers. Então, na verdade, a coordenação foi do Fernando e foi… eu era uma das pessoas da equipe. Todo mundo que trabalhava na época, a gente era quatro, cinco pessoas no Poder, no Drive, né, então todo mundo era equipe do Panama Papers, então acabou que eu caí de paraquedas, então já tinha começado, o Fernando já estava tendo reuniões com o ICIJ na época, então eu acabei caindo de paraquedas no meio e abracei essa, junto com os outros repórteres, eu abracei essa cobertura que é um tema que eu gosto, pessoalmente, de paraísos fiscais, uso de offshores para tirar dinheiro do país e evitar o sistema tributário. E foi uma experiência incrível porque porque de repente eu estava no meio de uma cobertura que tinha mais de uma centena de jornalistas do mundo inteiro, em comunicação com eles, usando ferramentas que eu jamais imaginava que existiam, usando sistemas criptografados e analisando balanços de empresa sediada em Bermuda e entendendo como funcionava aquele, que é um sistema complexo de criação de empresa, representantes, enfim, aprendendo um monte de termos técnicos e aprendendo muita coisa sobre o sistema financeiro mundial, como é que funciona. E, ao mesmo tempo, tocando o dia no Congresso e fazendo o Drive, fazendo a agenda. Foi uma oportunidade incrível, inacreditável. Foi um golpe de sorte pessoal meu e das pessoas que estavam junto comigo, inacreditável, assim, quando eu paro para olhar em retrospectiva. E aí como eu tinha uma facilidade muito grande para lidar com essas coisas, eu acabei ficando como um dos principais, ali, apuradores e coordenadores dessa cobertura, mas sempre chefiado pelo Fernando e aprendi muito. Foi, assim, realmente um golpe de sorte tremendo. Muitos jornalistas com muitos, muitos anos de carreira a mais que eu e talvez com muito mais competência, não tiveram a sorte que eu tive de estar onde estava e poder participar disso. Eu aproveitei ao máximo, foi uma experiência super legal, aprendi muito. E foi ótimo, porque, assim, quando você pára para pensar na operação como um todo, não só a nossa aqui, nós éramos os representantes do Brasil e a gente até teve que buscar parceiros porque a gente não dava conta sozinhos, essa equipe de quatro pessoas, aqui, trabalhando com o Fernando, não dava conta de ver todos os documentos, então a gente fez uma parceria na época eu acho que foi com o Estado de S. Paulo. A gente cedeu, enfim, acesso a eles, com autorização do ICIJ, incluiu jornalistas do Estado de S. Paulo, na época era o José Roberto Toledo que coordenava, acho que a equipe de dados do Estadão. E ele e outros, acho que mais dois ou três jornalistas do Estadão também, e a gente fez essa publicação… tanto a apuração, quanto a conferência das informações, quanto as publicações em conjunto, então foi também uma experiência de colaboração interna. Além de ter a colaboração na apuração com jornalistas do mundo inteiro, também de coordenar com outro veículo no Brasil, tanto a apuração, quanto checagem, de um veículo checar o outro, e "ah, como vamos publicar?", enfim, cada empresa tem as suas características, né, o Poder publica de jeito diferente do Estado em muitos casos e como alinhar tudo para que não… e alinhar tudo com as regras e os acordos feitos com todo mundo no mundo inteiro - questão de data, formato do material, checagem das apurações, rechecagem, tradução, que documento pode publicar, que documento não pode, que trecho pode, que trecho não pode, o que pode dar íntegra, o que tem que ser referência e, principalmente, como falar com todas as pessoas mencionadas nas reportagens. A gente fez reportagem citando o nome de 70 pessoas. Como ter organização e controle para que todas as 70 pessoas fossem contactadas e ouvidas ou, enfim, para que a gente pudesse ter registrado, mesmo que elas não quisessem falar. E checar, porque todo mundo que você entra em contato fala "não, eu não tenho offshore" ou então fala "tenho offshore e declarei tudo à Receita, mas não vou te mandar os comprovantes", porque ela não é obrigada, também, a mandar. Não é uma informação pública, é uma informação privada. Então, e aprender tudo isso, né, porque também eu era um jovem recém começando a carreira, então foi, assim, incrível, incrível, foi super legal.
[00:36:58] Hoje, o Poder é dividido em Drive, Data, Ideias e Poder Mercado. Por que as atividades foram divididas dessa maneira? Cada uma tem sua própria redação?
[00:37:11] Netzel: Não, na verdade, foi um desenvolvimento natural da empresa e aí a gente foi dando nomes para cada uma das coisas. A redação, ela é responsável por todo o conteúdo editorial, seja do Drive, seja do Poder360, a gente não tem equipes separadas, todos os jornalistas que produzem para o Drive produzem para o Poder360 e vice-versa, enfim, não é dividido por produto. A linha do tempo foi: a gente começou tudo com o Drive, depois lançou o Poder360, que, num ponto de vista mais empresarial da empresa, como ela se desenvolveu, aí a gente começou com o Drive, aí depois passou a ter o jornal digital, o Poder360, que tem publicidade, tem conteúdo patrocinado, que depois, só na estrutura, mais recentemente, a gente passou a chamar de Poder Mercado, e aí em 2017 a gente começou a fazer eventos de jornalismo, que são, enfim, organizados pela direção e os jornalistas participam cobrindo ou produzindo material jornalístico sobre. Mas, também, não tem uma equipe separada para fazer esses eventos. Quem faz são as mesmas pessoas que fazem as outras coisas e a gente passou a chamar essa divisão que faz eventos de Poderdeias. E também, em 2017, a gente lançou uma divisão chamada, na época era Data 360, hoje é PoderData, que realiza pesquisas de opinião pública. O PoderData, a gente tem um coordenador de pesquisas que trabalha, que é o Rodolfo Costa Pinto, ele é um dos sócios da empresa, desse braço da empresa, e ele é responsável pela execução, enfim, ele é um cientista político, tem uma formação nos Estados Unidos que é focada em pesquisas dessa forma, conheceu esse método de pesquisa que a gente usa primordialmente, que é por telefone e automatizado, lá nos Estados Unidos, que é o formato que eles utilizam lá, e aqui no Brasil ele não era muito usado e nunca tinha sido usado para fazer pesquisa eleitoral. Então, aí a gente criou o PoderData, Data 360 na época, com essa intenção, de realizar pesquisas de opinião pública, sejam elas de mercado, e principalmente pra gente pesquisas eleitorais. Então, ela surgiu em 2017 pra, pensando já em 2018, principalmente em 2018, que foi quando a gente consolidou a empresa, levamos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), registramos todas as nossas pesquisas e validamos a nossa metodologia como uma forma, como uma metodologia que tem credibilidade para realizar pesquisas eleitorais. Então, foi um passo depois do outro, meio como que foi toda a história da empresa: a gente começou com o Drive, consolidou o Drive, criou o Poder360, consolidou o Poder360, começou a fazer eventos, criou as pesquisas, consolidou as pesquisas e foi um progresso ao natural, assim, gradual, uma evolução mesmo, de a gente diversificar tanto a nossa forma de produção quanto as fontes de receita. Não ficar ficar dependendo de uma fonte de receita que, enfim, pode acontecer alguma coisa e dar errado. Lá no começo, em 2016, 2017, se algo desse errado com o Drive, acabava a empresa. Hoje não dia não, hoje em dia a gente já tem uma fonte diversificada. Foi pensando muito nisso e também no jornalismo que a gente faz, que está criando sempre novos formatos, novas formas de levar o conteúdo que a gente faz para o público. Então, depois a gente começou a fazer vídeos e não tem uma divisão própria de vídeos, então a gente passou a fazer vídeos dentro do nosso jornalismo, que servem também a divisão de eventos. Então, a gente faz vídeos de jornalismo, a gente transmite os nossos eventos, a gente faz vídeos de eventos, então é tudo uma evolução de formatos e produtos. Mas a equipe, enfim, a gente não tem equipes separadas para cada um dos… com exceção de pesquisas, que tem a coordenação do Rodolfo, a parte de jornalismo é toda integrada, a gente não divide em equipes especiais. Agora, enfim, que a gente já cresceu bastante, a gente está começando… A gente sempre teve equipe separada para produzir conteúdo patrocinado, os conteúdos patrocinados nunca foram feitos pela redação, mas a gente fazia com freela antigamente. Agora, a gente já tem uma equipe própria para conteúdos patrocinados e projetos especiais em geral, que não são da redação. São produtos pagos ou patrocinados. Mas, enfim, nossa produção editorial, ela não tem separação por formato, todos são jornalistas e produzem para todos os formatos.
[00:42:35] Qual é o perfil dos jornalistas que compõem a redação hoje? Quais qualificações vocês procuram nos profissionais que chegam?
[00:42:44] Netzel: Hoje, a gente já é uma empresa muito diferente do que era há quatro ou cinco anos, mas algumas características continuam sendo mantidas, assim. Em média, em comparação com os nossos, com os outros veículos mais tradicionais aqui, a gente tem uma equipe muito jovem, a gente desde o começou, o Fernando, uma coisa que o Fernando também sempre prezou, sempre procurou pessoas que querem, enfim, fazer a carreira, então, com super disposição de correr atrás e aprender e se desenvolver e, com isso, desenvolver também uma, se desenvolver com a cara do Pode360. Acho que é meio que… Não é bem esse o termo, mas é como fazer uma escola do estilo Poder360 de trabalhar, sempre teve uma visão um pouco voltada para esse sentido. Óbvio, a empresa cresceu um pouco e hoje em dia a gente já tem jornalistas mais experientes, com passagem por outros veículos e tal, mas, assim, o perfil médio, em geral, da equipe é todos muito jovem, todos muito interessados pelos assuntos que a gente cobre, isso eu acho que é essencial. Todo mundo que vem pra cá sabe o que a gente cobre e vem pra cá porque quer entrar nesse mundo. Como a gente veio também numa contramão dos veículos tradicionais, que passaram, enfim, por muitas reduções nos últimos anos, a gente acabou se tornando também um polo de, quem está começando na carreira e quer trabalhar com política, a gente acabou virando uma das principais portas para essas pessoas entrarem e começarem uma carreira, porque os outros veículos estavam contratando muito menos que a gente ao longo desses últimos anos. Então, uma coisa acabou puxando a outra ao mesmo tempo. Tem muita gente que é de fora de Brasília, esse também é um perfil que a gente busca, em geral. Óbvio que a gente tem pessoas de Brasília aqui também, mas também nessa visão, a gente quer cobrir o poder a partir de Brasília para o Brasil, a gente quer, a gente gosta de trazer pessoas que não têm um olhar viciado de quem já está aqui e que sabe como as coisas funcionam. Não, a gente gosta de trazer pessoas de fora para que também não percam a visão que o nosso leitor tem. Porque nós estamos em Brasília, a equipe toda está aqui, mas a maioria dos nossos leitores não é de Brasília, nossos maiores públicos estão nas maiores cidades, São Paulo, Rio, Nordeste temos muitos leitores, enfim. Tem um percentual considerável de Brasília, mas a gente não é veículo que escreve para Brasília, escreve a partir de Brasília. Então, para a composição da equipe também sempre foi muito importante ter pessoas vindo de fora, com olhar de fora, para cobrir Brasília. Então, olhando de maneira geral, óbvio, a empresa foi crescendo, a gente já tem uma equipe de quase 70 funcionários, a gente diversificou muito os perfis, a gente tem já pessoas bastante diferentes, enfim, já tem pessoas mais experientes, mas em geral a gente continua seguindo essas premissas, assim, a gente tem uma equipe muito… gosta muito dos assuntos que a gente cobre, que tem muito desejo de ter uma carreira em Brasília, enfim, cobrindo jornalismo político, e é em média jovem, assim, muitos jovens começando a carreira ou querendo consolidar a carreira, nos primeiros anos de carreira. Esse recorte continua sendo verdadeiro em relação à equipe.
[00:46:43] Certo. Agora, vamos falar um pouco sobre como a rotina de vocês, na redação, mudou com a chegada da pandemia. O que ficou diferente? Como vocês realizam as reuniões de pauta agora e o que estão aprendendo com isso tudo?
[00:46:59] Netzel: É, aqui de Brasília, nós fomos a primeira, a primeira redação a implementar o home office, então imediatamente, a partir do momento que foi aquela semana de março, ali segunda semana de março, 12, 13 de março do ano passado, a partir do momento que a gente entendeu, que o Brasil em geral entendeu o que ia ser a pandemia, essa realidade que caiu sobre a gente, no momento que todo mundo entendeu que a gente ia passar por um processo muito diferente, a gente adotou o home office e foi assim... Os lockdowns, eu lembro que aqui em Brasília o lockdown começou. na segunda-feira, dia 16, eu acho. A gente entrou em home office na quinta-feira, na quinta-feira dia 13. E... É uma coisa que era impensável há cinco anos atrás, talvez, dez anos atrás. Mas que já, enfim, é um processo que todo mundo teve dificuldades, mas na medida do possível foi possível, foi viável de implementar porque as ferramentas já estavam aí, né? A gente parou de fazer reuniões presenciais, passou a fazer reuniões virtuais, passou a falar muito mais no telefone uns com os outros, passou a falar muito por todas as reuniões, porque muitas pessoas passaram a ser virtuais... A nossa comunicação sempre foi muito por meios eletrônicos, todas as comunicações internas aqui são ou por mensagem ou por e-mail, isso já era antes da pandemia mesmo. Então, teve um processo de adaptação grande, óbvio que tem perdas de... de velocidade, principalmente, de qualidade até, de interação entre as pessoas, mas pela natureza do nosso ofício, a gente já ser um veículo digital, que é digital não só na publicação mas na elaboração das coisas, né, a gente tem um site, então cada um digita no seu computador, todos os nossos jornalistas recebem computador e celular da empresa, então todo mundo já tinha os equipamentos necessários para trabalhar em regime de home office. Foi mais realmente uma mudança mais de cultura que as pessoas, enfim, vez falar uma com a outra, elas precisavam ligar ou falar por mensagem ou por e-mail, mas eu acho que foi menos traumático do que muitos outros setores e muitas outras muitas outras áreas. Foi muito rápido de implementar, enfim, tomou-se a decisão e de um dia para o outro a gente estava em home office, mas muito por causa da própria natureza da empresa. Todo mundo já tinha seus acessos ao publicador, aos sistemas de comunicação, já sempre teve e já usava, então não precisou treinar ninguém para nada. Todo mundo sabia usar Zoom, Skype, Google Meet. A gente já tinha, já tinha os programas, então, enfim, acho que é óbvio que tem uma mudança grande, né? O que mudou é, mudou mais, por exemplo, os repórteres que pararam de ir presencialmente em muitos lugares, porque os lugares pararam de acontecer, né? O Congresso virou... O Congresso parou de se reunir. Isso tem uma mudança grande, né? Mas na dinâmica da empresa foi menos difícil e menos traumático do que poderia ser do que foi para muitas outras empresas de outras áreas, eu imagino. E aí é um processo de adaptação, mas eu acho que é uma... É óbvio que tem perdas de eficiência, de processos e de contato, discussão de pauta, de ideias, mas paciência, enfim. Eu tenho que... teve que enfrentar, mas assim, não teve nada que tenha sido irreversível, nada que a gente fazia antes deixou de ser feito, talvez de uma forma um pouquinho diferente. Uma coisa que teve um impacto maior para a gente como negócio foi a gente ter que parar de fazer eventos. Isso foi um impacto, mas é um item. De tudo que a gente faz, foi um dos itens que foi afetado. Em vez de fazer eventos, a gente teve que passar a fazer seminários virtuais. Isso foi uma perda grande no sentido de qualidade e até de receita. mas, na organização da equipe, apuração do jornalismo, mudou mais as coisas que o mundo mudou. O Congresso parou de se reunir, o Planalto ficou mais fechado, o STF (Supremo Tribunal Federal) parou de se reunir, teve um período de adaptação de todo mundo a essa realidade virtual que nós, enquanto empresa de jornalismo digital, conseguimos fazer a transição com muito mais tranquilidade. Mas a gente acompanha o resto do mundo que também teve isso, enfim, e aí não podia sair para fazer pauta, enfim, repórteres todos em casa, é mais difícil falar, é mais difícil conversar com uma fonte à distância, né, sem poder tomar um café, sem poder... Tudo isso tem um impacto, mas a essência da operação foi uma transição bem possível, assim, não foi traumático.
[00:53:03] A cobertura de certa forma imagino que tenha mudado um pouco porque vocês devem ter se visto na obrigação de falar um pouco sobre saúde. O PoderData também se tornou a única empresa de pesquisa a quinzenalmente levantar dados sobre como o brasileiro está reagindo a Covid. Então, em termos de cobertura, o que esse momento está ensinando para vocês na redação?
[00:53:30] Netzel: É, até antes de entrarmos no assunto cobertura, ao mesmo tempo que a gente teve um, um revés de não poder realizar os eventos presenciais, por outro lado o nosso PoderData foi beneficiado, né, porque a gente é talvez a maior a maior empresa de pesquisas a não realizar pesquisas presenciais na rua e sempre teve uma resistência muito grande, em 2018 a gente enfrentou a resistência muito grande para convencer as pessoas de que as nossas pesquisas tivessem qualidade estatística das pesquisas feitas em campo E a pandemia veio trazer para todo mundo, enfim, forçou todo mundo a adotar a mesma metodologia que a gente já utilizava desde sempre. Então, nesse ponto, foi uma transformação que foi do mundo que nos favoreceu. Mas, da cobertura, a gente passou a cobrir muitas coisas que a gente não cobria antes. A gente passou a ter que ter repórteres estudando e entendendo questões de saúde. sobre vacina, infectologia, política pública de saúde. Teve uma dimensão política muito grande nessa discussão, os lockdowns nos estados, se deveriam ou não fechar, se deveriam ou não abrir. A política de implantação de obrigatoriedade de uso de máscara que no começo foi, ninguém tinha certeza qual que devia, como devia ser feita como não devia, enfim, o mundo, o mundo passou a discutir certos assuntos que não eram discutidos antes e a nossa cobertura também, né. Então a gente não tinha ninguém cobrindo especificamente saúde ou Ministério da Saúde. Tinha pessoas que cobriam outros ministérios também junto Agora a gente tem jornalistas que são praticamente quase especialistas, que cobrem só isso, que estão super dentro desse tema, conhecem o Ministério da Saúde de cabo a rabo, e já conversaram com muitos especialistas, enfim. Do ponto de vista de cobertura foi principalmente isso. E das pesquisas também, a gente... Esse é o assunto, né? A gente cobre poder, que envolve política, que envolve economia, enfim, como isso afeta, como o poder afeta a vida dos brasileiros e tal e o que tá mudando a vida dos brasileiros é a pandemia, não só no Brasil, no mundo inteiro, então a cobertura não tinha como não ter essa virada em direção à pandemia e aos temas correlatos, né, políticas públicas de saúde, Ministério, esse embate de políticas nacionais com políticas regionais E as pessoas passaram a se preocupar com outras coisas também. O transporte mudou, o dia a dia mudou, novos problemas surgiram, dinâmica de home office na sociedade como um todo, pessoas, trabalhadores essenciais, sabe, quem pode trabalhar quem não pode trabalhar, quem é o que é essencial que não, como que as pessoas que são de trabalhos não essenciais, mas que tem o trabalho diretamente afetado pela pandemia, vão sobreviver. Enfim, muitos debates novos que surgiram. Isso vale para o jornalismo e vale para o Poder360 e vale para o Brasil como um todo, para o mundo com um todo. Então, enfim, é natural, como nós fazemos jornalismo, que a gente também mudasse o nosso foco em várias áreas. E aí, também, são várias descobertas, né? Porque ninguém era especialista em muitas coisas que a gente precisou passar a ser, se não especialista, pelo menos ter um conhecimento muito mais profundo para poder levar a informação para o nosso público. Então, ao mesmo tempo foi um período de qualificação e descoberta para todo mundo na equipe também e da empresa também, porque a gente tem que pensar em soluções, e como fazer uma equipe de 50, 60 jornalistas trabalhar protegendo ao máximo a saúde de todo mundo, sabe? Que medidas que precisam ser feitas, que medidas que precisam ser consideradas e cada pessoa tem uma dinâmica diferente, umas estão em grupo de risco, outras não estão, uma mora com o pai, outra não mora com familiares e como que se faz a empresa funcionar normalmente, ou mais próximo do normal, com todos esses fatores novos que nunca tinham sido considerados. E como se faz o trabalho do dia a dia para os repórteres, por exemplo? Como você vai cobrir o Congresso? Porque o Congresso está se reunindo virtual e você está em casa e as pessoas podem só não atender o telefone e você não vai conseguir falar com ninguém. Como você cria a relação de confiança com as fontes e com as pessoas com quem você está falando, se você não consegue nem ver a pessoa? Às vezes, a pessoa nunca te viu e você precisa falar com ela e você precisa que ela te conte alguma coisa. Foram muitas dinâmicas novas, eu acho, tanto no aspecto geral quanto no aspecto individual de cada profissional e de cada pessoa. E, assim como todo mundo, a gente também teve que descobrir o que fazer. Enfim, aí com sucesso em algumas decisões, outras não tanto, mas a gente conseguiu passar bem, eu acho, por esse período.
[00:59:04] Então, o ambiente digital amplia as maneiras de fazer reportagem, né? O jornalismo de dados, por exemplo, é uma nova forma que vem se consolidando no Brasil, que vocês também realizam no Poder360. Como funciona esse trabalho dentro da redação de vocês?
[00:59:22] Netzel: A gente não tem, não tem ainda uma equipe propriamente de jornalismo de dados, mas a gente tem uma uma política de promoção de jornalismo de dados interna muito forte. A gente tem alguns jornalistas que são muito, até o próprio Fernando, mas outros também, que têm uma experiência muito grande, muito conhecimento de jornalismo de dados. Tem, por exemplo, o Tiago Mali, que inclusive já deu cursos na Abraji e tal, que ajudam a, internamente, promover junto com todo mundo, para que todo mundo conheça mais e desenvolva trabalhos com jornalismo de dados, seja jornalismo de bases de dados públicas ou pedidos por Lei de Acesso à Informação ou, e enfim, todos os dados que a gente produz pelo PoderData, né? Que, enfim, é de ou de outra natureza, mas também é, também é jornalismo de dados. Enfim, ele tem uma base das respostas das pesquisas e tem que tirar dali conteúdo, conteúdo jornalístico seguindo essas regras do jornalismo. Então, a gente tem algumas pessoas que trabalham mais com isso, porque tem mais afinidade, mas a gente não não separa, enfim, pessoas dentro da redação que trabalhem exclusivamente com jornalismo de dados das pessoas que não trabalham com jornalismo de dados. Então, acho que é um modelo, acaba sendo um pouco limitador se você separar pessoas para só trabalharem com isso e, não sei, se segregarem internamente da redação. Óbvio que nunca é 100%, mas, enfim, a gente preferiu até o momento de ter essa disseminação generalizada entre todos os jornalistas de práticas e conhecimento e técnica e a gente já teve vários projetos grandes que trabalharam com jornalismo de dados em alguma extensão. Então, a gente tem a parte de pesquisas eleitorais, não só as nossas, mas a gente tem, o Fernando tem desde o começo e o Poder360 hoje tem, a maior, a única e a maior base de pesquisas eleitorais do Brasil. Pesquisas eleitorais, de todos os institutos, é a única empresa barra veículo (empresa/ veículo) de jornalismo que tem isso e que traz. A gente trabalha com isso extensivamente durante os anos eleitorais, com todo mundo da equipe. A gente tem essas investigações internacionais, né? O Panamá Papers depois teve, tiveram outros, né? Bahamas, Paradise Papers, que é muito jornalismo de dados. Que mistura muita coisa, mas… e também várias pessoas da equipe trabalharam em diferentes investigações. E a gente tem o jornalismo de dados do dia-a-dia, né? Que agora com pandemia, todas as bases de dados de vacinação, de contaminação, base de dados do Ministério, enfim, conhecemos muitos sistemas de base de dados do SUS, que nunca tínhamos trabalhado antes. Entender como funciona e técnicas do dia-a-dia. Todo dia, nunca fiz esse levantamento, mas, se for olhar, tenho certeza que todos os dias vai ter alguma alguma reportagem nossa publicada que teve o uso de técnicas ou de ferramentas de jornalismo de dados. Então, a nossa visão interna é essa, todo mundo precisa saber pelo menos um pouco e todo mundo precisa treinar e ter acesso às ferramentas e a gente optou, por pelo menos até agora, não separar pessoas pra trabalharem exclusivamente com isso. Mas, óbvio, dentro da redação, tem as pessoas que se identificam e gostam e trabalham com isso porque têm afinidade. Mas isso sem impedir que outras pessoas possam queiram se desenvolver e aprender. Então, internamente, divide muito, até durante as apurações, divide muito conhecimento que está sendo implementado e que está sendo criado, com pessoas que não estão diretamente envolvidas com a apuração. É uma política que tem funcionado bem e que a gente acha que é benéfica pra todo mundo que trabalhou. Por origem já do Fernando, a gente gosta muito de trabalhar com o jornalismo de dados porque o jornalismo digital é inescapável. Você precisa conhecer cada vez mais esses assuntos, e cada vez menos eu acho que vai ter essa separação de "ah, não, Isso aqui é jornalismo de dados e Isso aqui não é", sabe? É uma barreira artificial que é criada, é um um rótulo.
[01:04:29] Por falar em dados, agora em 2021 o Poder atingiu um novo recorde de audiência, com 9,3 milhões de visitantes únicos e 32,3 milhões de páginas visualizadas. Eu queria saber como o jornal mede essa audiência e se esses dados permitem a vocês identificar o perfil, o leitor do Poder?
[01:04:52] Netzel: Sim. A gente acompanha, enfim, tem o acompanhamento de audiência que todo mundo tem. A gente tem o Google Analytics, que é super detalhado do nosso público e como o nosso conteúdo é consumido. A gente também tem acompanhamento por via Comscore, que é uma outra medida de audiência, que é diferente da Analytics e que outras empresas também... É um indicador do mercado também, sobre crescimento de audiência e visibilidade não só de veículos digitais. Mas a gente acompanha muito, e tem muita informação. O próprio Google Analytics tem uma infinidade de informações sobre seu público. E eu acho que já é uma crescente constante nos últimos anos, a gente teve alguns picos que eu acho que acompanharam. Foram picos gerais de interesse por jornalismo, né? Não foi só a gente que bateu recordes. Ano passado a gente bateu todos os nossos recordes históricos no começo da pandemia, março e abril. Aí, esse ano, a gente bateu todos os recordes do ano passado. Porque a gente é um veículo ainda muito jovem, né? Então a gente tá numa crescente muito acentuada nos últimos anos, de audiência, mas também tem esses momentos de recorde, que eu acho que é porque realmente tem momentos de interesse jornalístico. Então, a gente sempre sabe, eleições para gente é sempre um momento de a audiência crescer muito e a pandemia teve pelo menos dois momentos em que aumentou muito a audiência, que foi no começo da pandemia, no ano passado, e agora, quando teve essa, pode chamar de segunda onda ou esse momento mais acentuado da pandemia, que foi também agora, abril, maio. Mas, independente desses picos, que acho que todo mundo teve, a gente sempre, quando passa o pico, a gente sempre estabiliza num patamar mais alto. Então, se pegar a média, ao longo dos últimos cinco anos, a gente cresceu muito, mas também por causa disso, né? Somos ainda um veículo muito jovem e que está sendo cada vez mais conhecido. E isso também vale para o público leitor que a gente alcança. A gente tem um perfil, a gente partiu de um perfil muito restrito lá, no começo, de pessoas um pouco mais velhas, majoritariamente homens, de mais de 30 anos, e porque esse é o perfil das pessoas que acompanham muito arduamente os temas que a gente cobre. Mas, à medida que a gente foi crescendo em audiência, em volume, esse perfil também foi sendo suavizado em torno de algo mais próximo da população em geral. Hoje já é muito mais equilibrado, continua tendo um predomínio de homens sobre mulheres, de pessoas de 30 a 45, sobre jovens, bem jovens, mas ele já tá muito mais suavizado e disperso, então a gente teve um aumento muito grande, eu acho que dá pra dizer, da classe C, essa grande massa de leitores brasileiros, que eu acho que coincide também com isso: mais pessoas dessas faixas passaram a ler notícias no meio digital, enfim. Então, hoje já é bem mais suavizado, bem mais matizado esse perfil nosso do leitor. Tem algumas categorias que são um pouco mais altas, mas ele já está bem mais próximo do que seria o perfil da população, em relação ao que era no comecinho, quando era muito "viciados em político". Hoje em dia, a gente já tem um… essas pessoas continuam acompanhando a gente, mas o volume de leitores, que é um movimento natural, né... Quanto maior for a nossa audiência, mais mais suavizados vão ser esses… essas características.
[01:09:05] E as e as notícias do site são abertas para qualquer um, qualquer pessoa que queira ler. Por que vocês optaram por esse modelo de negócio?
[01:09:14] Netzel: Foi uma opção que deriva um pouco da maneira como a gente estruturou o Poder360, né O Poder360, o site, o jornal digital, desde o começo, ele não foi o nosso principal produto, em termos de receita, né? Em termos estritamente empresariais, né, de faturamento. O modelo de negócio foi desenvolvido a partir do Drive. Então a gente nunca precisou se preocupar que a receita do Poder360, do site, sustentasse o negócio, desde o começo. Tanto é que a gente só desenvolveu comercialmente o Poder360 muito mais recentemente, aí nos últimos dois, três anos. E aí essa decisão de manter o site aberto, sem o sistema de assinaturas do site ou sem um paywall, decorre da maneira como a empresa se desenvolveu. Mas é uma coisa, também, que a gente está revendo para os próximos anos. É um modelo que funcionou muito, está funcionando muito bem, porque a gente tem essa diversidade de fontes de receita e não depende, a gente não precisava fazer com que o site carregasse a empresa financeiramente. Então, ao mesmo tempo, a gente queria aumentar muito o nosso público, porque a gente era muito pequeno. Então, sendo muito pequeno, se a gente tivesse feito um sistema de paywall, de assinaturas, a gente estaria nos matando antes de crescer. Então, a gente também tem essa visão, mas foi muito recorrente, foi muito natural. Foi uma decisão muito natural da maneira como a empresa se desenvolveu e que agora a gente está chegando num estágio que talvez a gente possa rever. Mas por enquanto segue com o conteúdo aberto para qualquer brasileiro e pessoa, qualquer cidadão do mundo que queira ler as notícias do Poder360, elas estão disponíveis gratuitamente para todos.
[01:11:31] Você está falando muito sobre a diversidade das fontes de receita, né? Um dos pés de sustentação é a página de conteúdo patrocinado. Quais são os critérios que vocês adotam para publicar esses conteúdos, para selecionar quais vão ser publicados.
[01:11:52] Netzel: Os critérios são parecidos com… Para a gente aceitar um conteúdo patrocinado, eles precisam ter algum interesse jornalístico. Eles precisam ser um conteúdo jornalístico. É óbvio que a gente tem alguns conteúdos que são mais institucionais, mais ligados às marcas que estão patrocinando e alguns conteúdos que são quase que puramente jornalísticos, né? Eles são sempre produzidos por jornalistas, então são feitos, embora eles tenham temas discutidos com os patrocinadores, eles são criados e realizados por jornalistas do Poder360, não da redação, são sempre jornalistas que não não atuam na cobertura do dia a dia, mas que ainda assim são jornalistas, são paramentados com tudo que a profissão segue e tem para oferecer. Então, a gente gosta muito do formato de conteúdo patrocinado, principalmente para fazer séries de reportagens, que são séries de temas muito relevantes, né? Fizemos várias, já fizemos sobre mobilidade, infraestrutura, sobre indústria, sobre mercado de saúde, que são séries que dificilmente a gente conseguiria fazer por iniciativa própria, pela redação, porque, enfim, não está somado com a cobertura do dia a dia, a gente tem outros assuntos que são prioridades e o formato de conteúdo patrocinado nos possibilita criar esses conteúdos jornalísticos que são relevantes, que são reportagens, que, enfim, passam pelo mesmo tratamento editorial que o resto da nossa cobertura, mas que, obviamente, são de temas que são do interesse da empresa que estão nos patrocinando. Tem alguns que são mais conteúdos institucionais das empresas, mas essas séries de reportagens são o grande exemplo dos formatos que a gente acha que é o ideal, porque são conteúdos que a gente produziria editorialmente, mas que só são viabilizados porque a gente encontra um patrocinador disposto a associar a sua marca a eles. Então, é um formato que a gente gosta muito de fazer, não tem o menor receio, vergonha de fazer. A gente gosta muito de fazer conteúdo patrocinado assim, no geral. A gente deixa muito claro que é, indica quem está pagando, diferencia na medida do possível ali, tanto na própria página que tem cores diferentes, que tem várias indicações esparramadas pela página dizendo que aquele é um conteúdo patrocinado, o link diz que é conteúdo patrocinado. Quando a gente publica nas redes sociais, a gente diz que é conteúdo patrocinado, enfim, deixando tudo muito claro. Mas é isso, é um formato que nos possibilita fazer conteúdos jornalísticos que a gente não faria no dia a dia, porque a gente tá preocupado com a cobertura regular. Então, é uma saída que a gente gosta muito.
[01:15:20] E hoje o Poder consegue se financiar plenamente?
[01:15:26] Netzel: Sim, sim, sim. Somos uma empresa financeiramente sustentável, em crescimento, com resultados positivos em todos os anos. Saudável financeiramente. Com a equipe crescendo. Temos tido sucesso no nosso modelo, né? Modelo de negócios.
[01:15:46] Que ótimo. Recentemente, agora, no começo do ano, teve uma mudança na estrutura societária do Poder. Isso mudou alguma coisa na rotina de trabalho? E quais são os planos a partir dessa mudança?
[01:15:59] Netzel: Mudou muito no ponto de vista de estrutura comercial, comercial não, gerencial da empresa, né? Porque a gente está crescendo e estruturando muitos departamentos. Na redação, a única diferença que fez é que a gente aumentou muito a redação. Então, nos últimos dois meses, a entrada do novo sócio trouxe um investimento que nos possibilitou, por exemplo, contratar mais 15 jornalistas, nesses últimos dois meses. Mas principalmente, esse foi o impacto disso na redação, né? Na equipe, no jornalismo, né? Mas é uma mudança que vai ser muito grande principalmente nas outras áreas da empresa. A gente está investindo muito na parte de tecnologia, para desenvolver novos produtos, novos serviços jornalísticos, novos formatos de jornalismo. Então, a gente contratou muita gente, está estruturando ainda essa equipe de tecnologia e todo o resto da empresa, então os departamentos comercial, de administração, a própria gestão da empresa está sendo melhorada e desenvolvida. Acho que o impacto maior é nesse sentido, e é muito a visão que os sócios têm do que a gente precisava progredir, porque a gente passou cinco anos, seis anos agora, desde o começo da empresa, investindo praticamente tudo, tanto em termos monetários quanto de esforço e trabalho, para desenvolver o nosso jornalismo e a nossa redação, até chegar num nível, que, claro que tem muito a desenvolver ainda, mas tem um nível muito desenvolvido de jornalismo. E agora a gente quer fazer com que o resto da empresa também chegue nesse mesmo patamar. Acho que a maior transformação vai ser nesse sentido, especialmente nas áreas de tecnologia, na área de tecnologia e gestão. A empresa está mudando muito ao longo desse ano, mas não na sua essência. Nem na essência, nem na organização da equipe de jornalismo, né? O efeito que teve na equipe de jornalismo foi aumentar a equipe. Mas em termos de produção, cobertura, a gente continua seguindo a mesma estrutura, os mesmos princípios. Isso aí não teve nenhum efeito. Mas agora a gente vai poder fazer muitas coisas que a gente sempre quis e que agora a gente vai ter a oportunidade de desenvolver, e ao longo desse ano, ano que vem, os próximos, continuar esse ritmo de crescimento da empresa e fazer cada vez mais coisas, cada vez mais mais projetos, enfim, mais conteúdo, mais jornalismo.
[01:19:12] A edição mais recente do Digital News Report da Reuters foi divulgada agora em junho de 2021 e mostrou que a taxa de confiança geral dos brasileiros em notícias é de 54%. É um número relativamente alto para os padrões internacionais. Você falou agora das mudanças na empresa e eu queria saber o que que o Poder fez no ano passado, desde o começo da pandemia, para buscar reforçar a credibilidade com os leitores, considerando que a gente vive num cenário de desinformação.
[01:19:46] Netzel: A gente fez o que a gente sempre buscou fazer. A pandemia ressaltou algumas características. A gente tem princípios editoriais muito claros e publicados, enfim, no dia que a gente entrou no ar, os nossos princípios editoriais estavam no site e eles continuam os mesmos, com algumas melhoras, até hoje. O que a gente faz é colocá-los da maneira mais clara possível e usá-los no dia a dia, porque é um processo contínuo e permanente de percepção do leitor em relação ao nosso trabalho, então a gente não tem, a gente está nesse clima de polarização, de conflito político, ideológico, e a gente está no meio disso, não tem como escapar. E o que a gente pode fazer é "olha, a gente faz isso, esse é o jornalismo que a gente acredita, que a gente pratica e a nossa cobertura é reflexo dessas coisas". E se eventualmente algum dia a gente perder o caminho dessas coisas que a gente prega e acredita, eu acho que o público vai perceber e o que a gente faz e pode continuar fazendo é seguir firme nessa linha de trabalho. Então, manter a empresa funcionando, crescendo e levar o nosso jornalismo para cada vez mais pessoas. Eu acho que a credibilidade é um resultado desse processo. Não tem muita fórmula mágica. É muito fácil se perder, mas para construir é tempo e trabalho e, enfim, seriedade. E todas aquelas coisas que se espera de um veículo jornalístico. E, com a pandemia, a gente teve que aplicar isso à cobertura desse tema. A gente talvez tenha a publicação mais robusta aí de dados de todos os tipos, né? Com infográficos, porque isso também está na visão que a gente tem, a gente precisa... Não adianta a gente produzir informação e dados se a gente não conseguir levar eles pro público de uma forma que o público entenda fácil e rápido. Então, a gente usa muito infográfico para isso. A gente publica todos os dias, todas as atualizações, todos os dados que estão à disposição, e acompanha tudo o que está sendo discutido, das políticas. Eu acho que a credibilidade que a gente tem é é reflexo desse trabalho contínuo e permanente, seguindo a linha do que a gente defende, do que que é o bom jornalismo profissional, desde sempre. A gente faz parte de, por exemplo, enquanto Poder360, faz parte de um projeto que chama Projeto de Credibilidade, que estabelece… estabelece não, mas que seleciona e faz mostrar melhor nos veículos alguns parâmetros do que é considerado bom jornalismo profissional. E a gente está enquadrado em todos eles. Somos um dos veículos que adotam desde o princípio do projeto aqui no Brasil. Acho que isso é um indicador da seriedade do nosso trabalho. A gente participa de trabalhos colaborativos com outros veículos de jornalismo, sobre comunicação. A gente participa do Projeto Comprova, que faz checagem de dados e tenta combater, enfim, a desinformação com um trabalho que envolve dezenas de veículos de comunicação, que trabalham juntos e publicam o mesmo material, como um esforço geral da imprensa no combate à desinformação. Fazemos parte da Abraji, que é uma associação super importante na promoção do bom jornalismo, jornalismo investigativo, em defesa dos jornalistas. São várias ações que a gente tenta praticar, mas, na essência, na essência, a única coisa que nos garante credibilidade, que nos leva a ter a confiança do leitor, é o trabalho que a gente publica todos os dias. Todos os dias a gente precisa fazer um trabalho que esteja ao nível que está se esperando. Ao nível que o leitor espera do Poder360. Acho que no fim, só isso. É só o jornalismo mesmo que vai nos garantir isso. É muito difícil construir isso. Toma tempo, toma trabalho, toma muito trabalho e é muito fácil perder isso, então também é uma luta constante para não se desviar dessa linha que a gente segue, que a gente acha que todos os veículos jornalísticos devem seguir, para evitar perder essa credibilidade.
[01:25:08] E quais são os desafios de cobrir política em momentos como esse que você citou agora, de disputas muito acirradas?
[01:25:19] Netzel: Bom, a gente tem desafios práticos, por exemplo: hoje em dia, diminuiu muito a interação das autoridades públicas com a imprensa. Muito por causa das redes sociais, porque enfim, é uma dinâmica que é do mundo. Não tem nada que a gente possa fazer para impedir. Em vez de procurar e falar com a imprensa, as autoridades preferem falar diretamente para o público. E aí não tem, enfim, você não passa pela mediação da imprensa. Isso é um desafio muito grande. As autoridades têm um canal direto para falar e elas podem simplesmente optar por não falar com a imprensa. Isso dificulta muito o trabalho da imprensa. Talvez essas, da dinâmica dos últimos anos, talvez essa seja a mais significativa, eu acho. Com a pandemia muito mais, porque você vai além dessa restrição das plataformas, de que todo mundo está configurado, se passou a ter restrições físicas, o contato diminuiu muito, seja com as fontes, seja em geral. Aí você tem esse clima de polarização mesmo do público, que procura nos veículos identificação mais do que informação, muitas vezes. E aí também, dentro da nossa missão de fornecer informação, muitas vezes a gente não é capaz de oferecer ao público a identificação que eles estão procurando na gente. Acho que isso é um drama pelo qual todos os veículos de comunicação, de jornalismo sério, os profissionais, independente de viés, de viés não, de orientação, enfim, todo mundo que quer fazer jornalismo profissional e produzir boa informação passa por esse dilema, porque muitas vezes o público está procurando mais identificação do que informação. Acho que essa é uma dinâmica que mudou muito ultimamente. Ultimamente também não sei dizer porque não tenho muito tempo de amostra para analisar no passado, mas, enfim, é uma coisa que está acontecendo hoje. E aí, enfim, a gente tem algumas coisas pontuais, né? A gente tem uma agressividade, aumentou muito a agressividade não só do governo, principalmente do governo federal, mas a agressividade nas relações de imprensa com autoridades em geral, aumentou. A agressividade do público, seja nas redes sociais, com insultos, quanto em ataque a jornalista e perseguição a jornalistas por causa do conteúdo que está sendo publicado, que acho que aumentou também em termos nacionais. A gente sempre teve uma violência oculta, muito grande, regional contra os jornalistas, mas eu não tenho como falar sobre isso, mas do ponto de vista nacional da cobertura geral a agressividade aumentou muito, em todos os lados. Em relação às fontes, em relação ao público, em relação às pessoas e acho que talvez esses três pontos sejam as maiores mudanças e as maiores dificuldades que não só o Poder360, mas todo mundo que trabalha com esse tema tá passando ultimamente. Em maior ou menor escala, todo mundo está passando por isso, enfim, é a maneira como o mundo está organizado hoje. É difícil dizer como ele está e paciência. A gente tem que fazer o nosso trabalho, apesar desse contexto.
[01:29:32] Você explicou que o poder tem um pico de audiência principalmente nas eleições, e são nesses momentos que as disputas ficam mais acirradas. Como é que vocês se protegem nas redes sociais das agressões? Vocês têm alguma política interna, instrução para os repórteres? Como é que vocês tratam esse tema dentro da redação?
[01:29:54] Netzel: A gente tem uma política geral de orientação de todos os funcionários do Poder360, e sejam eles jornalistas ou não, em relação a publicações em redes sociais, a gente, infelizmente, é uma característica da nossa profissão, e da empresa com a qual a gente trabalha. A gente trabalha com jornalismo, e no momento em que você é jornalista ou você trabalha numa empresa de jornalismo, toda manifestação sua nas suas redes, sejam elas pessoais ou profissionais, pode ser identificada como relativa ao lugar onde você trabalha. Então a gente tem uma orientação mesmo, bastante clara e transparente, com todos todos os funcionários em relação ao que as pessoas escolhem postar nas suas redes em relação à opinião política e, enfim, opiniões em geral, que não são, enfim, regras duras e definitivas, mas que são uma orientação mesmo, porque até para a própria defesa da pessoa. A gente sabe que a gente lida com comunicação e, enfim, até certo limite é impossível a gente se proteger de tudo. Em relação aos nossos repórteres, a gente felizmente não teve nenhum caso muito grave de ameaça direta aos nossos repórteres. A gente já teve alguns episódios pontuais, mas, enfim, até o momento a gente conseguiu passar sem nenhum grande problema. Mas também todas as todas as decisões que a gente pode tomar enquanto empresa para proteger a integridade, seja ela física ou nas redes dos nossos repórteres, a gente toma. A gente já optou por não realizar certas coberturas, para não colocar em risco os nossos repórteres. A gente orienta sempre que tiver qualquer situação de possível conflito iminente, seja com manifestantes, manifestantes e polícia, enfim, qualquer tipo, a gente orienta os nossos repórteres a sair e se proteger acima de tudo. A gente prefere perder alguma cobertura, enfim, alguma foto ou alguma informação, um vídeo, a colocar a nossa equipe em risco, isso é uma orientação geral nossa, sempre. E redes sociais é isso, a gente tem algumas orientações. Em relação ao processo judicial, também, felizmente, a gente não teve nenhum caso muito grave. Se tiver qualquer ofensiva judicial a qualquer funcionário, a empresa assume a defesa. Eu acho que é praxe de todas as empresas de jornalismo. A gente faz o que que dá. E segurança digital, também, agente tem várias orientações em relação à segurança digital, seja dos dados da empresa, seja dos funcionários, que a gente também promove dentro do Poder360, para minimizar. É óbvio que a gente nunca vai conseguir reduzir a zero, mas mitigar ao máximo qualquer problema, seja por exemplo por hackeamento, seja ameaças aos nossos funcionários. Tem um limite do que é possível fazer, mas dentro desse limite a gente tenta fazer tudo que seja tudo que seja possível.
[01:33:47] Você é muito jovem, já tem uma trajetória significativa no jornalismo, principalmente no praticado nas mídias digitais. Eu queria saber quais diferenças você consegue identificar entre os profissionais da sua idade e os da geração passada, que pegaram a transição do analógico para o digital.
[01:34:08] Netzel: Varia muito de pessoa a pessoa. O maior exemplo acho que é o Fernando, que é uma pessoa de uma geração passada, mas que é muito mais antenado e adepto e tem uma facilidade com as novas tecnologias, essa nova dinâmica do jornalismo digital muito mais do que muitos dos jovens da equipe. Mas, assim, eu sendo bem generalista, tem uma questão de adaptação tecnológica que as pessoas mais jovens, as pessoas da minha geração que já cresceram usando internet. Então, isso faz uma diferença sim. Queira ou não tem pessoas da geração passada que se adaptam muito bem, mas tem outras que também não. E até a maneira de pensar as práticas e os processos, tem muita mais naturalidade para quem se desenvolveu já dentro do ambiente de internet, enfim, como conseguir as informações, como buscar certas informações, como falar com as pessoas. Eu acho que a maior diferença é essa, realmente de adaptação tecnológica, não no sentido de usar as ferramentas, mas de pensar o jornalismo nesse novo contexto, enfim, digital. E tem também uma diferença de, principalmente dos jornalistas mais experientes que trabalharam nas empresas, nos grandes jornais, nas grandes revistas, nas grandes TVs, tem uma diferença de cultura mesmo, que é derivada do formato das empresas. Quem fez a carreira inteira num grande jornal, vê a relação com as fontes, a forma de fazer jornalismo de um jeito diferente do que um jovem que começou a carreira num veículo pequeno digital. E essa, talvez, essa diferença de cultura seja ainda mais pesada e tenha mais influência na adaptação do que a tecnológica, propriamente dita, que é… Enfim, a maneira de fazer as coisas, a maneira como as empresas estão organizadas hoje, mudou muito em relação à geração passada. E tem gente que não consegue se adaptar a essa nova forma. Inclusive tem não só gente, como algumas empresas. Várias empresas que eram muito relevantes há 20, 30 anos e por motivos financeiros, mas não só financeiro, mas organizacionais mesmo, hoje em dia já não conseguem ou quebraram ou sumiram ou não tem hoje nem um décimo de pujança jornalística do que já tiveram no passado. Foi uma transição muito difícil para as empresas e acho que para os profissionais também, porque, enfim, a rigor, no fim das contas, quem faz as empresas são os profissionais. Então, tem um impacto grande que tem exceções para os dois lados, mas acho que as duas principais diferenças são essas: adaptação tecnológica, mas principalmente, adaptação de cultura dentro das empresas jornalísticas.
[01:37:30] E pra você, qual é a definição de jornalismo?
[01:37:35] Netzel: Vixi. Ah, jornalismo é, enfim, deixa eu pensar uma frase mais pronta, jornalismo é você captar da realidade dentro do que você consegue alcançar, as informações e transformá-las de modo que elas se tornem inteligíveis para pessoas normais, para as pessoas comuns. Como extrair da realidade informações que são relevantes e levá-las ao público, tratá-las de forma a serem inteligíveis pelo público. Isso, independente da área ou do tema que você esteja cobrindo.
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